Estação Memória: um projeto que reúne idosos, jovens e memórias

Todas as quartas-feiras à tarde, um grupo reúne-se na Escola de Comunicações e Artes para discutir memórias.
Os participantes, na maioria, têm entre 80 e 90 anos de idade. Trata-se do projeto Estação Memória, coordenado pela professora Ivete Pieruccini, do Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD). A ideia do projeto é trabalhar o processo de lembrar, de rememorar. Ivete conta que muitos idosos vêm à Estação procurando por exercícios para memorização, mas não se arrependem. “As pessoas raramente conseguem se desligar. Deixam o projeto por razões físicas, de saúde”, diz.

O projeto realiza uma ponte intergeracional. A maioria das reuniões são na USP, com os idosos. Mas há algumas reuniões que promovem encontros entre jovens e idosos. São privilegiados os jovens de Paraisópolis, onde funciona o espaço de pesquisa Estação do Conhecimento.

Ivete conta que os jovens que participam tornam-se mais prestativos e compreensivos com os idosos e melhoram até mesmo sua relação com pessoas idosas da família. Ela conta também casos como o de uma menina que escolheu a carreira de jornalismo com ênfase em cinema por influência das conversas com uma idosa cinéfila que participava do projeto.

Além das reuniões, há saraus realizados na Estação Memória, relacionando poesia e memória.

Um pouco de história

A Estação Memória nasceu de um projeto de pesquisa do professor Edmir Perrotti, também do CBD. Os primeiros esboços do projeto datam do final da década de 1980.

A ideia surgiu de uma conversa com uma senhora de idade que indagou o motivo de algumas pessoas idosas serem divulgadas e outras permanecerem desconhecidas. Ela morava em Pinheiros e argumentou que como ela outras pessoas da região contribuíram para a construção do bairro e não eram ouvidas.

Assim foi criado o projeto Memórias do Baixo Pinheiros, que consistia na coleta de depoimentos de pessoas da região. O objetivo era não somente dar voz a essas pessoas, mas também criar meios de transmissão da experiência de vida de pessoas idosas para crianças e jovens.

No entanto, faltava um espaço físico. E foi quando entrou a professora Ivete. Ela atuava na Rede de Bibliotecas Infanto-juvenis da Cidade de São Paulo e conseguiu que se criasse um espaço em Pinheiros, o que se concretizou em 1997. Até então, o projeto havia se baseado na teoria (estudos, coleta de depoimentos). Passaram a ser realizadas oficinas de memória de duas a três vezes por semana.

Algumas dificuldades

Em 2008, a Secretaria Municipal de Cultura deliberou a desapropriação do espaço e a Estação foi impedida de continuar, sob a alegação de que o ambiente era usado de forma privativa. “O que é uma absoluta inverdade. Eu acho que há uma justificativa social que está acima de nós”, diz Ivete. Quem sustentava a Estação era a própria equipe. “Um ou outro material a prefeitura fornecia, mas nada que onerasse de forma abusiva”, conta Ivete.

Os idosos entraram com recurso na Corregedoria do Idoso, fizeram protestos na rua, mas a Secretaria foi inflexível. “A emoção foi muito grande quando vimos que perdemos o nosso lugar”, conta Mariano Giffoni, participante do projeto, hoje com 92 anos.

Renovação

Apesar das dificuldades, a união dos idosos permitiu a superação. “O que manteve a coesão e a continuidade do grupo foram os vínculos que eles próprios tinham com o projeto”, conta Ivete.

A professora propôs que o projeto fosse trazido para a USP. Algumas pessoas não puderam acompanhar a mudança, devido a dificuldades de locomoção. Outros novos participantes juntaram-se ao grupo, alguns oriundos de outro projeto, o Universidade Aberta à Terceira Idade. Hoje são por volta de 40 inscritos.

Na Universidade, a grande mudança foi o uso de novas tecnologias. Hoje, parte das reuniões debatem temas da Internet. Os idosos têm acesso ao blog do projeto e grande parte faz uso da Internet.
As reuniões ocorrem às quartas-feiras, das 14h às 17h, na sala 257 do Departamento de Biblioteconomia e Documentação (CBD), no Prédio Principal da ECA.

Saiba mais sobre o projeto no blog – http://www.estacaomemoria.blogspot.com/.

por Maria Carolina Gonçalves

Fonte: http://www3.eca.usp.br/node/1836

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Entrou em vigor a nova NBR sobre elaboração de Trabalhos Acadêmicos

Entrou em vigor, a partir do dia 17.04.2011, a terceira edição da NBR 14724 que disciplina a Elaboração de Trabalhos Acadêmicos. Publicada pela ABNT em 17.03.2011, esta norma foi elaborada pelo Comitê Brasileiro de Documentação e Informação e pela Comissão de Estudos de Documentação. O projeto foi submetido à Consulta Pública Nacional no período de 08.10.2010 a 06.12.2010. Saiba mais: http://www.abnt.org.br/consultanacional.
É importante que as instituições de ensino superior estabeleçam regras de transição para aplicação desta norma.
Outro processo de revisão também está em trâmite. Trata-se da atualização da NBR 10520 que disciplina a Apresentação de Citações em Trabalhos Acadêmicos. A consulta pública está aberta até o próximo dia 29.04.2011.
Para visualizar a consulta pública e o texto completo da norma é necessário o “ABNT Passaporte” que pode ser obtido gratuitamente no mesmo site. Veja aqui – http://www.abntonline.com.br/consultanacional/projetodet.aspx?ProjetoID=6132.

Fonte: http://www.praticadapesquisa.com.br/2011/04/entra-em-vigor-nova-nbr-sobre.html

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O crepúsculo dos sábios

Estado de S.Paulo
Aliás J5, domingo, 15 de novembro de 2009

O crepúsculo dos sábios
Apática, sem maravilhamento, a universidade pós-moderna se esqueceu de sua dívida simbólica com as gerações passadas

Olgária Matos, Professora de filosofia da USP

– O conceito de universidade moderna e a natureza do conhecimento que ela produziu até os anos 1960 tinham por objetivo formar o cientista. Este representava o “mestre da verdade” porque capaz de compreender seu ofício na complexidade dos saberes e da história. Sua autoridade procedia de sua palavra pública, pela qual se fazia responsável. O cientista era o intelectual, e para ele a pesquisa não correspondia a uma profissão, mas a uma vocação. O conhecimento mantinha sua autonomia com respeito às determinações imediatamente materiais e do mercado. Sua temporalidade – a da reflexão – compreendia-se no longo prazo, garantidora da transmissão de tradições e de suas invenções.

A universidade pós-moderna, por sua vez, converte pesquisa em produção, constrangendo-se à pressa e à produtividade quantificada do conhecimento, adaptando-se à obsolescência permanente das revoluções técnicas, promovidas pelas inovações industriais segundo a lógica do lucro. A temporalidade do mercado confisca o tempo da reflexão, selando o fim do papel filosófico e existencial da cultura. Para a universidade moderna não cabia a pergunta “para que serve a cultura”, mas sim “de que ela pode liberar”. A universidade moderna elevava a sociedade aos valores considerados universais no concerto das nações que procuravam uma linguagem comum ao patrimônio cultural de toda a humanidade, devolvendo-o à sociedade com seus maiores cientistas e seus melhores técnicos. Essa foi a tradição de Goethe que havia formulado a ideia da Weltliteratur, da literatura universal como cosmopolitismo do espírito.

A universidade pós-moderna é a da indiferenciação entre pesquisa e produção. O intelectual cultivado foi destituído – em todos os domínios do conhecimento – pelo especialista e seu conhecimento particularizado, cujo contato com a tradição cultural é episódico ou inexistente. Seu discurso não diz mais o “universal” e se limita a formulações técnicas, perdendo-se o sentido do conhecimento e seus fins últimos, com a passagem da questão teórica “o que posso saber” para a pragmática “como posso conhecer”. Pra Gunther Anders, o emblema da conversão do intelectual em pesquisador, da razão crítica em desresponsablização ética e racionalidade técnica, foi Fermi na Itália e Oppenheimer nos EUA, cujas pesquisas sobre a bomba atômica foram tratadas por eles em termos estritamente técnicos.

A universidade pós-moderna não lida mais com as “grandes narrativas” nem busca a fundamentação do conhecimento e seus primeiros princípios. Como o mercado, se pauta pela mudança incessante de métodos e pesquisas. Nada aprofunda, produzindo uma cultura da incuriosidade, imune ao maravilhamento. Em sua pulsão antigenealógica, acredita que tudo o que nela se desenvolve deve a si mesma, não reconhecendo nenhuma dívida simbólica com as gerações passadas. Essa circunstância, por sua vez, pode ser compreendida no âmbito da massificação da cultura e da universidade.

Com a ditadura dos anos 1960 no Brasil, a universidade pública moderna – concebida de início para formar as elites governantes, a partir do ideário de universidade cultural, científica e com suas áreas técnicas – começa sua desmontagem, o que e resulta em sua massificação. Sob a pressão de massas historicamente excluídas dos bens científicos e culturais, bem como do sucesso profissional aferido pelo enriquecimento nas profissões liberais, a universidade pós-moderna acolhe populações sem o repertório requerido anteriormente para a vida acadêmica. Face ao ideário moderno baseado no mérito de cada um e não mais no sistema nobiliárquico do nascimento, e sua incompatibilidade com a desigualdade real de oportunidades para a ascensão social, a universidade pós-moderna questiona, contrapondo-os, mérito e igualdade, reconhecendo no primeiro a manutenção do regime de privilégios e distinções do passado.

Assim, a universidade atual adapta-se à fragilidade do ensino fundamental e médio, passando a compensar as deficiências dessa formação. Para isso, a graduação retoma o ensino médio, a pós-graduação a graduação, o doutorado o mestrado, cuja continuidade é o pós-doutorado, tudo culminando na ideia da “formação continuada” e de avaliações permanentes. Ao mesmo tempo, a ideia de pesquisa moderna anterior transforma-se em fetiche pós-moderno, tanto que a iniciação científica se faz para estudantes em preparação para a vida universitária adulta, mas constrangidos a publicações precoces. O paradoxo é grande, uma vez que, maiores as carências nos anos de formação do estudante – como a precariedade no acesso à bibliografia em idiomas estrangeiros e dificuldades de expressão oral e escrita na língua nacional -, mais estreitos são os prazos para a conclusão de mestrados e doutorados. Prazos e métodos, por sua vez, migram das disciplinas científicas para todos os campos do conhecimento, sob o impacto do prestígio da formalização do pensamento, como é possível reconhecer, em particular no estruturalismo e, mais recentemente, no linguistic turn, sua legitimidade garantida pelo rigor científico de suas formulações. Acrescente-se o abandono da ideia de rigor na escrita e o fim do estilo, com o advento do gênero paper e a multiplicação de congressos no mundo globalizado.

Massificada a cultura, proliferaram, com a ditadura militar, a privatização do ensino e seu barateamento, as universidades particulares – salvo as exceções de praxe – prometendo ascensão social e acesso ao “ensino superior” e decepcionando suas promessas. A universidade moderna que a antecedeu garantia o exercício da formação especializada e se encontrava na base dos cursos técnicos com formação humanista para todos os que não se encaminhavam para a pesquisa, devendo atender à profissionalização, mas também à felicidade do conhecimento.

A emergência da universidade pós-moderna diz respeito ao abandono dos critérios consagrados até então a fim de democratizá-la. Mas a democratização pós-moderna é massificação. A sociedade democrática comportava diversas representações das coisas: os partidos representavam as diferentes opiniões, os sindicatos os trabalhadores, a Confederação das Indústrias os empresários. Na sociedade pós-moderna, o consenso é produzido pela mídia e suas pesquisas de opinião, através da eficiência persuasiva da televisão, que primeiramente cria a opinião pública e depois pesquisa o que ela própria criou. Razão pela qual massificação significa perda da qualidade do conhecimento produzido e transmitido, adaptado às exigências de massas educadas pela televisão, com dificuldade de atenção e treinadas para a dispersão, mimadas por uma educação que se conforma a seu último ethos.

A cultura pós-moderna é a da “desvalorização de todos os valores”. Sua noção de igualdade é abstrata, homóloga à do mercado onde tudo se equivale. Em meio à revolução liberal pós-moderna, a universidade presta serviços e se adapta à sociedade de mercado e ao estudante, convertido em cliente e consumidor, como o atesta a ideologia do controle dos docentes por seus alunos.

Em seu ensaio Filosofia e Mestres, Adorno diz, temendo incorrer em sentimentalismo, que o conhecimento exige amor. Sua universidade, a de Frankfurt, era moderna, humanista, como era humanista o professor de uma fita italiana dos anos 1970. No filme, estudantes impedem o franzino docente de literatura românica com seus compêndios eruditos de entrar na sala de aula onde discutem questões do curso. Sentado em um banco, o mestre escuta o vozerio e ruídos de cadeiras sendo arrastadas. Por fim é chamado e, quando entra, os estudantes em suas carteiras estão em círculo, e o professor senta-se entre eles. Discutem então o que o professor deveria ensinar-lhes. Como não chegam a nenhum consenso e o dia se faz crepuscular, decidem finalmente deixar que o professor se manifeste. Ao que o professor, retomando seu lugar junto à lousa e diante de todos, anuncia: “Estou aqui para ensinar a vocês a beleza de um verso de Petrarca”.

Metáfora rigorosa para a educação, da escola maternal à universidade, o conhecimento, como escreveu Freud, é uma das tarefas mais nobres da humanidade no longo processo de sua humanização.

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Site sobre saberes informacionais


http://www.savoirscdi.cndp.fr/index.php?id=493

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Algumas imagens do X ENANCIB

Algumas fotos – veja álbum em: http://picasaweb.google.com.br/colabori/XEnancib#

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Pesquisadores do ColaborI participam do Enancib 2009

Os coordenadores do Colaboratório de Infoeducação – Colabori, Prof. Dr. Edmir Perrotti e Profa. Dra. Ivete Pieruccinni participarão do X ENANCIB a ser realizado no período de 25 a 28 de outubro, na cidade de João Pessoa, Paraíba.

O Prof. Dr. Edmir Perrotti coordenará o GT3: Mediação, Circulação e Uso da Informação

A Profa. Dr. Ivete Pieruccini apresentará o trabalho Informação, Educação e Conhecimento: contribuições de pesquisa em CI na formação do profissional da informação. Trata-se de trabalho desenvolvido a partir da disciplina do mesmo nome, criada pelos Profs. Drs. Edmir Perrotti e Ivete Pieruccini, para o curso de graduação em Biblioteconomia ECA/USP e que inscreve a Infoeducação na agenda da área, a partir desta nova disciplina.

A pesquisadora Elisângela Alves Silva também apresentará o pôster: Para todas as estações da vida: redes intergeracionais, informação e cultura, relacionado à sua pesquisa de mestrado, cuja parte empírica pode ser conferida no blog: Estação Memória e Paraisópolis: discutindo cinema .

Mais informações sobre o X ENANCIB – Encontro Nacional de Pesquisa em Ciência da Informação em: http://dci.ccsa.ufpb.br/xenancib/

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Em Novembro: III Diálogos de Infoeducação

Agende-se!

Quintas-feiras, às 14h30.
Em breve teremos a programação completa.

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Para todas as estações da vida: redes intergeracionais, informação e cultura

Imagem do pôster apresentado
RESUMO: O trabalho tem como objetivo contribuir para o desenvolvimento do conceito de rede intergeracional, tomado sob perspectiva teórica e metodológica, a partir de enfoque histórico-cultural. A fundamentação teórico-metodológica está centrada nas abordagens do conceito das redes, sobretudo no campo das ciências sociais, porém, ressalta-se o vazio relacionado à conceituação das redes intergeracionais sob a perspectiva cultural. A revalorização da experiência marcada pela aproximação entre as diferentes gerações é fundamental para a construção dos laços sociais, cada vez mais distanciados pelo ritmo veloz característico do “caos informacional” que vivemos e o caráter utilitário relacionado à transmissão dos saberes, às lições da tradição e a denominada “crise da memória”. Propõem-se a apropriação dos recursos tecnológicos e de comunicação, como as ferramentas de redes sociais online e os blogs, para estabelecer as conexões rompidas.

Palavra-chave: Rede Intergeracional; Rede Cultural; Mediação Dialógica; Cibercultura; Blog1) Introdução
Pensar as relações entre informação, memória e educação na contemporaneidade, entre tantos aspectos, obriga-nos a considerar os avanços tecnológicos e seus produtos como questão crucial a ser enfrentada por todos nós. Resultante de tal avanço, vivemos em meio à avalanche informacional sem precedentes históricos, assim como à aceleração extraordinária dos processos de produção, circulação e recepção de informações, condição que vem afetando nossos modos de lidar com elas de construir conhecimentos. Neste quadro, conforme Perrotti e Pieruccini (2008, p. 52) “a falta convive lado a lado com o excesso, o fortuito com o permanente, o virtual com o real, embaralhando fronteiras e percepções que alteram irremissivelmente as relações com o conhecimento e o saber”.
Na ânsia por encontrar uma ordem no emaranhado de informações e atribuir-lhe sentidos, conforme Maffesoli (1996), os sujeitos direcionam-se a um núcleo, “sua tribo”, embora convivam também com relacionamentos sem limites geográficos, sobretudo nos ambientes virtuais. Se estes enriquecem as trocas de informações, não enriquecem necessariamente a experiência, conforme Benjamin (1993), aspecto essencial da construção da memória social.
Neste panorama de reconfiguração da cultura, nos extremos das forças de voz e voto, idosos e crianças isolaram-se e estão, cada um a seu modo, isolados. Tal situação impede a formação de importantes vínculos intergeracionais e aprofunda o trânsito de informações indispensáveis a ambas as partes.
Se, por um lado, os idosos poderiam redescobrir fontes de aprendizado, fomentar o crescimento de novas conexões sociais, compartilhar experiências e memórias, de outro, crianças e jovens poderiam ser beneficiados, pois como indica Perrotti (1991), o confinamento das crianças em locais apartados da memória viva da cidade, reduz seu repertório cultural, circunscrevendo-os ao tempo presente. Tal situação seria “uma tendência geral de reforço da uniformidade, de redução das significações (…) seja no plano cognitivo ou motivacional” (PERROTTI, 1991, p. 95).
O isolamento das gerações compara-se à visão de livros sem leitores ou, em outros termos, do contador de histórias sem ouvintes. O que seria da personagem Sheherazade e seu amplo repertório sem uma interlocução? Se os saberes da vida são confinados aos sujeitos, ao esquecimento e à perda, se não são transmitidos, como os conheceremos? Estamos destinados ao eterno retrabalho especializado e autista diante de tantas fontes vivas?
Nesse sentido, urge uma reflexão sobre as proporções deste confinamento de crianças, jovens, adultos e idosos, e as formas possíveis de intervenção, de mediação cultural entre as diferentes gerações, a fim de que possamos contribuir para o restabelecimento de laços sociais rompidos, mas indispensáveis também em nossa era da informação. Assim, como alternativa, mais do que reunir diferentes indivíduos para troca de informações entre si sobre suas vivências e os trabalhos que realizam isoladamente, nosso trabalho propõe-se a estudar as relações intergeracionais na contemporaneidade, a partir da formação de uma rede entre idosos, crianças e jovens, tendo em vista a troca de experiências de vida que não são senão trocas de saberes e de visões de mundo fundamentais às diferentes faixas etárias.
A necessidade de compartilhar informações e reconstruir os laços sociais, ou simplesmente o aprimoramento de trabalhos, é a base da formação das redes. A especificidade de nosso objeto e nossas indagações tecem os seguintes objetivos:

2) Objetivo geral
· Contribuir para o desenvolvimento do conceito de rede intergeracional, compreendida como uma modalidade específica de rede cultural.
· Explorar e analisar as possibilidades das redes intergeracionais como dispositivos de reterritorialização das relações de idosos e jovens, ou seja, como instâncias capazes de promover intercâmbios e interações indispensáveis aos processos culturais de construção de sentidos.
· Contribuir para o desenvolvimento da trama conceitual e metodológica necessária à consolidação da Infoeducação como abordagem teórica e prática nova e fundamental das relações entre Informação e Educação, na contemporaneidade.

2.1) Objetivos específicos
· Desenvolver referências conceituais e metodológicas necessárias à formação de redes intergeracionais como modalidades específicas de redes culturais.
· Sistematizar a construção de um blog intergeracional como um dispositivo comunicacional a serviço do fortalecimento das redes intergeracionais.

3) Metodologia
Entre os diversos tipos de pesquisas de natureza qualitativa, a pesquisa em desenvolvimento caracteriza-se como pesquisa colaborativa, ao envolver a participação e colaboração entre o pesquisador e os demais participantes do processo de pesquisa.
Na pesquisa colaborativa, conforme Ibiapina e Ferreira (2005, p. 32), os indivíduos “tornam-se parceiros, usuários e co-autores do processo de pesquisa”. Quanto à investigação “é delineada a partir da participação ativa, consciente e deliberada de todos os partícipes e as decisões, ações, análises e reflexões realizadas são construídas coletivamente por meio de discussões grupais” (IBIAPINA; FERREIRA, 2005, p. 32).
Assim, segundo tal opção, há uma alteração da condição de pesquisador-observador para a de pesquisador-participante. Logo, a perspectiva de pesquisar “sobre” altera-se para de pesquisar “com”, na busca dialógica entre sujeitos por ações transformadoras de uma determinada realidade.
Dada a peculiaridade de nossa pesquisa e a busca pela construção conjunta, houve uma atuação direta com o grupo de idosos que compõe a Estação Memória, dispositivo cultural intergeracional, criado por pesquisadores da ECA/USP, sob coordenação científica do Prof. Dr. Edmir Perrotti, e desenvolvido sob coordenação da Profa. Dra. Ivete Pieruccini. A participação contribuiu assim, para o envolvimento nas ações no momento de sua ocorrência.

3.1) A pesquisa
O projeto em desenvolvimento acompanha, num primeiro momento, o grupo da Estação Memória, formado por cerca de 20 idosos, com faixa etária entre 60 e 92 anos, sendo 4 idosos do sexo masculino e as demais participantes do sexo feminino. Além dos membros do grupo referido, também participam, na qualidade de mediadores culturais, três adultos com faixa etária entre 29 e 50 anos. O grupo apresenta nível sócio-econômico heterogêneo, de baixo e médio a elevado, sendo na sua maioria constituído por aposentados, com formação universitária diversificada: Pedagogia, Letras, Engenharia, Artes Plásticas, Biblioteconomia, entre outros.
As sessões são realizadas semanalmente, no período da tarde, com algumas ausências registradas por motivo de saúde, problemas familiares, entre outros. A presença varia entre 14 e 17 participantes por sessão.
Nossa participação na Estação Memória deu-se num momento de mudanças e conflitos relacionados ao espaço físico do grupo. Desde 1997, fruto de uma parceria entre a ECA/USP e a Secretaria de Cultura do Município de São Paulo, os encontros aconteciam na Biblioteca Infanto-Juvenil Álvaro Guerra, situada na Avenida Pedroso de Moraes, 1919, no bairro de Pinheiros, em São Paulo. Em razão de uma reforma da Biblioteca, decidida arbitrariamente e sem consultas prévias pela burocracia da Secretaria de Cultura do Município, o espaço da Estação Memória, apesar de suas ricas e originais possibilidades comprovadas em 10 anos de existência, foi desmontado, sob protestos e mobilização dos idosos que frequentavam a biblioteca. Especialmente concebida e organizada onde antes era um depósito de materiais fora de uso, a Estação deixa, assim, de funcionar na biblioteca e passa a oferecer suas oficinas na ECA/USP, enquanto a Universidade aguarda resposta à sua proposta de retomada da parceria que levou à criação e instalação do novo dispositivo cultural em um espaço cultural de natureza pública.
Num segundo momento, o projeto abarcará cerca de 30 crianças participantes do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis, projeto social localizado na segunda maior favela de São Paulo.

4) Resultados
O projeto está em andamento e além do desafio de trabalhar com grupos intergeracionais, houve também as dificuldades para a realização dos encontros da Estação Memória no primeiro semestre, incluindo-se algumas paralisações e uma greve de funcionários da Universidade, fato que não impediu as reuniões do grupo e surpresas variadas ao discutir a temática das redes sociais online. Um participante, de 92 anos, surpreende positivamente, ao afirmar que ter um blog hoje é fundamental para o registro das comunicações e interações. Outro, é motivo de preocupação: não vou aprender a usar o computador nesta altura da vida.
Durante os encontros do primeiro semestre de 2009, escolheu-se o cinema como temática. Cada um, durante as reuniões, ia fazendo referências a “um filme inesquecível”, temática que será desenvolvida também com crianças participantes do projeto, para posteriores trocas entre os grupos.
Em relação às crianças, definiu-se com os responsáveis pelo Núcleo de Educação do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis a proposta de trabalho em ambientes digitais de interação, mais especificamente os blogs, buscando um diálogo com os idosos da Estação Memória, a partir da temática mencionada.
Nossa proposta para esta fase do projeto é que as crianças acessem o blog da Estação, como exemplo de fonte de informação a ser trabalhada e interajam com o registro de suas impressões sobre os filmes no campo “comentários”, disponível neste blog. Os idosos já selecionaram cinco filmes para exporem às crianças, entre uma relação de vinte e quatro filmes comentados.
Está previsto também que as crianças realizarão uma oficina de suas memórias cinematográficas, como as realizadas com os idosos. Buscar-se-á criar um ambiente digital para o registro dos filmes “inesquecíveis” para, depois, os idosos entrarem no blog das crianças para a inserção de comentários. Assim, para ambas as gerações abrem-se o campo de diálogos, formas de comunicação e trocas simbólicas mediadas pela tecnologia, mas num momento posterior, de forma direta, presencial, pois como dissemos, será proposta uma sessão de finalização em que os idosos e crianças assistam juntos a filmes eleitos por ambos os grupos, dentre os escolhidos inicialmente. Em seguida, deverão realizar uma conversa presencial e virtual sobre o filme.

5) Algumas considerações
O trabalho pessoal em rede é tão antigo quanto a história da humanidade, mas é com o desenvolvimento das tecnologias de informação que fica mais evidente a noção de se estar conectado a uma rede global e em constante evolução. A diversidade de ferramentas de interação digital que não apenas facilitam, mas ampliam os meios de mediação, desde a simples troca de e-mails à adesão às redes sociais, como os blogs.
Há, na atualidade, uma diversidade de trabalhos que tratam da temática das redes no âmbito da informática e das ciências sociais, mas não na perspectiva de envolvimento entre jovens e idosos numa ação em rede, com vistas à ampliação dos horizontes informacionais, bem como da produção de novos conhecimentos veiculados por meio das experiências e dos relatos entre grupos geracionais distintos.
Desse modo, esperamos contribuir com este trabalho no desenvolvimento de conhecimentos que possam atuar, em termos contemporâneos, no restabelecimento de vínculos intergeracionais fundamentais. Desejamos, assim, compreender como as redes intergeracionais poderão atuar para que adultos, idosos e crianças redefinam e redescobrem espaços físicos e/ou virtuais de convivência e de trocas simbólicas, essenciais à constituição de si e do mundo em que vivem.
O uso de recursos como blogs para o fortalecimento e promoção das relações sociais entre gerações mostra que, diante dos avanços tecnológicos, da fragmentação dos vínculos, das relações, dos saberes e dos territórios, é fundamental pensarmos em intercambiar experiências, em refletir sobre os valores da memória individual e coletiva, bem como sobre a utilização da apropriação dos recursos tecnológicos e de comunicação para restabelecer conexões presenciais rompidas.

6) Referências bibliográficas
BENJAMIN, Walter. Experiência e pobreza. In: ______. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1993. p. 114-119.

FARIA, Ivete Pieruccini. Estação Memória: lembrar como projeto – contribuição ao estudo da mediação cultural. 1999. 177 f. Dissertação (Mestrado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo.
IBIAPINA, Ivana Maria Lopes de Melo; FERREIRA, Maria Salonilde. A pesquisa colaborativa na perspectiva sócio-histórica. Linguagens, Educação e Sociedade, Teresina, PI, n. 12, p. 26-38, 2005.
MAFFESOLI, Michel. A república dos bons sentimentos: documento. São Paulo: Iluminuras; Itaú Cultural, 2009. 127 p.
PERROTTI, Edmir. Confinamento cultural, infância e leitura. São Paulo: Summus, 1991. 108 p.
PERROTTI, Edmir. Rede Biblioteca Viva. No prelo.
PERROTTI, Edmir; PIERUCCINI, Ivete. Infoeducação: saberes e fazeres da contemporaneidade. In: LARA, M.L.G.; FUJINO, A.; NORONHA, D.P., (Org.). Informação e contemporaneidade: perspectivas. Recife: Nectar, 2007, v. 1, p. 47-96.
PIERUCCINI, Ivete. A ordem informacional dialógica: estudo sobre a busca de informação em educação. 2004. 194 f. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, São Paulo.
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II DIÁLOGOS DE INFOEDUCAÇÃO

SABERES INFORMACIONAIS

Veja as fotos: http://picasaweb.google.com.br/colabori/IIDialogosDeInfoeducacao#

Dia 24 de setembro de 2009 – quinta-feira

Manhã:10:00-11:30

Palestra: Profa. Dra. Henriette Ferreira Gomes – Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação, Universidade Federal da Bahia

Tema: Mediação da Informação, Bibliotecas Universitárias e Educação Superior

Local: ECA/USP- Sala de Reuniões Videoconferências – sala 101 (1º andar)

Informações: 3091-4076 – Ramal 5 (Secretaria CBD)

Dia 25 de setembro – sexta-feira

Manhã: 10:00-13:00

Diálogo: “Em torno do conceito de Estação do Conhecimento

Prof. Dr. Edmir Perrotti (ECA/USP)

Profa. Dra. Ivete Pieruccini (ECA/USP)

Profa. Dra. Anna Maria Cintra (ECA/USP)

Profa. Dra. Henriette Ferreira Gomes (UFBA)

Profa. Dra. Ester Calland de Sousa Rosa (UFPE)

Local: Estação do Conhecimento Einstein – Programa Einstein Comunidade de Paraisópolis

Rua Manoel Antonio Pinto, 285 (Paraisópolis) – Tel: 2151-6721

Dia 28 de setembro – segunda-feira

Tarde: 13:00-14:00

Palestra: Profa. Dra. Lucília Maria Sousa Romão – Professora Doutora da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, pesquisadora do CNPQ

Tema: Leitura de Barraco, o vídeo e o projeto

Local: ECA/USP- Sala de Reuniões Videoconferências – sala 101 (1º andar)

Informações: 3091-4076 – Ramal 5 (Secretaria CBD)

Dia 29 de setembro de 2009 – terça-feira

Manhã: 09:00-11:30

Palestra: Profa. Dra. Ester Calland de Souza Rosa – Doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pela Universidade de São Paulo. Professora adjunto da Universidade Federal de Pernambuco.

Tema: Políticas Públicas de Informação e Educação: Mediação e Bibliotecas Escolares no Recife

Local: ECA/USP- Sala de Reuniões Videoconferências – sala 101 (1º andar)

Informações: 3091-4076 – Ramal 5 (Secretaria CBD)

Por iniciativa do Colabori – Colaboratório de Infoeducação – do Departamento de Biblioteconomia e Documentação da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, pesquisadores, professores, estudantes e profissionais de diferentes áreas estarão reunidos para refletir sobre o conceito de saberes informacionais, tendo em vista sua importância essencial, especialmente na construção de programas de infoeducação, em diferentes ambientes educativos.

Confira a programação e participe! Entrada gratuita.
Realização: Colabori- Colaboratório de Infoeducação
Apoio: CBD/ECA-USP e PPGCI/ECA-USP

Como chegar:
http://picasaweb.google.com.br/lh/photo/jJ7iXc5EHCSrJBbgAVT4xg?feat=directlinkirectlink
Casa da Criança de Paraisópolis – Rua Manoel Antonio Pinto, 210 – Paraisópolis
Mapa / Linhas de ônibus: 7040-10 PARAISOPOLIS – Pinheiros / 6412-10 PARAISOPOLIS – Term. Princesa Isabel.
Para obter mais informações ligue 156 (24 horas) no Município de São Paulo ou acesse
http://www.sptrans.com.br/

ECA – USP – Av. Prof. Dr. Lúcio Martins Rodrigues, 443 – Cidade Universitária, São Paulo – SP
Mapa / Como chegar na USP: de ônibus, trem, metrô, carro ou avião – veja: http://thiagorodrigo.com.br/como_chegar_usp.php?p=onibus#oninus-municipal

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Defesas dos mestrandos/pesquisadores do Colabori – acompanhem!

Mestrando: Cristiano Rogério Alcântara – “Rede de leitura: uma abordagem sociocultural do ato de ler”
dia 15 de setembro, às 09:00 horas

Mestranda: Sônia Barreto de Novaes Paschoal – “Mediação cultural dialógica com crianças e adolescentes: oficinas de leitura e a singularização”
dia 18 de setembro, às 14:00 horas

Mestrando: Wanderson Scapecchi – “Saberes informacionais na educação superior: um estudo exploratório com estudantes universitários”
dia 24 de setembro, às 14:00 horas

Mestranda: Amanda Leal de Oliveira – “Cultura na Fazenda: um estudo sobre a apropriação da leitura como negociação de sentidos”.
dia 28 de setembro, às 14:00 horas


Local: ECA/USP (1º andar)
Informações: 3091-4076 – Ramal 5 (Secretaria CBD)

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